Jogos Indígenas do Baixo Tapajós: demarcando territórios através do esporte

A segunda edição do evento no último final de semana reuniu os 13 povos indígenas do Baixo Tapajós na praia em frente à cidade de Santarém, para a disputa da etapa final dos jogos
Na abertura dos jogos indígenas a realização do ritual de permissão para a entrada dos povos no território Santarém. Foto: Divulgação/Citabt
Edvaldo Pereira | Amazônia em Foco

Nos dias 2 a 4 de dezembro, os 13 povos indígenas do Baixo do Tapajós se reuniram na praia em frente ao Centro Cultural João Fona, em Santarém (PA), para disputar as finais dos Jogos Indígenas do Baixo Tapajós (II JIBAT), que teve como tema “Educação Intercultural, demarcando territórios através dos esportes”.

O evento, organizado pelo Conselho Indígena Tapajós e Arapiuns (Cita), que representa os povos Apiaká, Arapium, Arara Vermelha, Borari, Jaraqui, Kumaruara, Maytapu, Munduruku, Munduruku Cara Preta, Tapuia, Tapajó, Tupaý e Tupinambá que vivem em 18 territórios nos municípios de Santarém, Aveiro e Belterra, acontece de dois em dois anos e estava suspenso desde o advento da pandemia de Covid-19.

Criado em 2015 pela iniciativa de professores de educação física e de artes do ensino estadual modular indígena, foi inicialmente pensado para o ambiente escolar, mas a organização e o movimento indígena perceberam a importância e dimensão política dos jogos e o adotaram como instrumento de afirmação e resgate da identidade dos povos participantes.

Auricélia Arapiun, coordenadora do Cita, falou sobre a importância dos jogos no fortalecimento da cultura e também como uma ferramenta de resistência: “O tema dos jogos relacionando o esporte com a educação é por conta do incentivo à juventude para a prática e seu uso como uma ferramenta importante de luta e de resistência indígena”, afirmou.

Marcelo Borari, membro da coordenação do JIBAT desde a primeira edição, comentou sobre as modalidades esportivas praticadas nos jogos. “Esses esportes são justamente as modalidades praticadas dentro das nossas aldeias, então a gente traz essas modalidades como uma forma de valorizar a própria cultura, o modo próprio de ser dos povos dentro dos territórios”, explica.

Programação intensa

Os jogos são compostos por três etapas eliminatórias, que esse ano aconteceram nas margens dos rios Tapajós e Arapiuns e em Alter do Chão, e contaram com a participação de atletas das aldeias das regiões do Eixo Forte, Planalto e do município de Belterra.

Participam dos jogos centenas de indígenas, lideranças e jovens que se orgulham de fazer seus próprios uniformes e exibir as pinturas corporais. O artesanato produzido nas aldeias, e que também é fonte de renda aos povos participantes, acompanha o JIBAT e é vendido em uma feira durante a realização do evento.

A abertura começou com o rito sagrado, falas de lideranças, coordenadores e apoiadores dos jogos. A primeira noite se encerrou com as apresentações das equipes com seus devidos gritos de guerras. A manhã de sábado se iniciou com as disputas das semifinais do futebol de areia masculino e feminino. Pela tarde, as finais da natação, canoagem, corrida de 100 metros e as semifinais da envira de guerra (cabo de guerra).

Envira da resistência é considerada uma das modalidades mais emocionantes dos jogos. Foto: Cita/Divulgação

Para Marcelo Borari, a realização dos jogos reafirma a presença indígena e sua importância cultural na região. “Eu creio que os jogos indígenas têm essa pegada, que é um pouco mais voltada pra questão da valorização da cultura, mas também tem esse lado mais político da coisa, a gente vive numa região onde existe uma negação da luta dos povos indígenas daqui”, comenta.

A noite de sábado contou com apresentações de danças de cada aldeia presente, com a disputa entre as cunhãs, além da escolha do Casal JIBAT. As apresentações musicais ficaram por conta das performances do Grupo Kumaru e da cantora Priscila Castro.

A manhã do último dia dos jogos começou com a corrida de resistência e as finais dos futebol masculino e feminino. À tarde, as disputas foram nas modalidades de arremesso de lança, peconha, arco e flecha com circuito e tiro livre, além das finais da envira de guerra e da corrida com toras. 

Competição do arremesso de lança. Foto: Cita/Divulgação

A 2ª edição dos Jogos Indígenas do Baixo Tapajós encerrou com uma linda noite cultural, com direito ao ritual sagrado, entregas das premiações individuais aos vencedores e por último a revelação da equipe campeã, que esse ano foi a equipe Amarela, composta pelos povos Tupinambá e Kumaruara. A programação se encerrou com apresentações do grupo feminino de carimbó Suraras do Tapajós, de Alter do Chão e do DJ Eric Terena, ativista indígena sul-mato-grossense e jornalista co-fundador da Midia Índia. .

Com informações de Cita e Tapajós de Fato

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