Projeto ‘Vídeo Cartas Ubuntu’ leva formação audiovisual para quilombos de Santarém

Esta é a segunda edição do projeto. Na primeira, as oficinas foram realizadas em quatro aldeias indígenas. Nesta, adolescentes e jovens de quatro quilombos do planalto e da várzea estão recebendo oficinas de audiovisual. Resultados das oficinas são filmes dos gêneros: documentário, ficção e animação. 
Edvaldo Pereira | Amazônia em Foco

Cerca de 80 adolescentes e jovens, entre 12 e 22 anos, participaram das oficinas de audiovisual levadas às comunidades quilombolas de Santarém (PA) pelo Projeto Vídeo Cartas Ubuntu, com foco na produção de filmes de ficção, documentário e animação, as oficinas. As histórias contadas por anciãos, griôs e griotas desses territórios, inspiraram a criação dos filmes, que são exibidos para toda a comunidade nos últimos dias da cada semana de oficinas. 

O projeto Vídeo Cartas está na sua segunda edição e sua programação desta vez está voltada ao público quilombola de uma extensa região de várzea às margens do rio Amazonas, nos quilombos Arapemã e Saracura, e na região do planalto santareno, quilombos Murumuru e Bom Jardim.

Alunos do quilombo Murumuru e equipe do projeto Vídeo Cartas. Foto: Raphael Ribeiro

“O que falar do projeto Vídeo Cartas? Foi uma uma semana produtiva e até cansativa, mas conseguimos fazer o nosso papel e contribuir com tudo que foi feito. Eu me senti honrada em participar, e várias histórias do Arapemã me inspiraram, eu me encaixei perfeita no papel”, relata a estudante Leidilza Silva, 22, do quilombo Arapemã.

Na visão de Maria Caetana, presidente do quilombo do Murumuru, “foi um sentimento de gratidão, quando vem um evento desse pro nosso quilombo, a gente se sente grato por isso, porque isso que nós buscamos para os nossos adolescentes […] o audiovisual chama a atenção deles, já é a da vivência deles, eles tendo um celular já fazem essa prática. Então para eles completa o conhecimento”. 

Jovens participantes, comunitários do quilombo Bom Jardim e equipe do projeto Vídeo Cartas. Foto: Raphael Ribeiro

Contemplado pelo prêmio Preamar de Cultura da Secretaria de Estado de  Cultura (Secult/PA), o Vídeo Cartas Ubuntu é uma realização da produtora audiovisual M´bóia em parceria com a Federação das Organizações Quilombolas de Santarém (FOQS), o Ponto de Cultura Kizomba e o Projeto Saúde e Alegria. Também conta com o apoio das associações e escolas municipais das localidades. 

A primeira edição do projeto em 2021 foi desenvolvida com jovens e adolescentes de quatro aldeias do Baixo Tapajós: Akayu Asu, Caranã, Vista Alegre do Capixauã  na Resex Tapajós-Arapiuns e na aldeia Açaizal no planalto santareno. As produções podem ser acessadas no canal do Youtube do Vídeo Cartas: https://www.youtube.com/@videocartastapajos8570

Sobre o Vídeo Cartas

O projeto surgiu com a proposta de difusão de oficinas de audiovisual para povos tradicionais e originários que têm pouco acesso aos meios de produção videográficos. Assim, o Vídeo Cartas Ubuntu tem a intenção de promover atividades audiovisuais direcionadas, especialmente, às populações amazônicas, com eixos-temáticos que correspondam as realidades do povo daqui, no qual possa existir uma constante capacitação e protagonismo na apropriação dos conhecimentos compartilhados  do projeto e continuidade autônoma pelos jovens comunitários. Ao final de cada etapa, são disponibilizados kits de audiovisual (celulares, microfones, equipamentos de led e tripés) para serem utilizados em diversas atividades de comunicação comunitárias. 

No primeiro dia das oficinas, os alunos de todos os quilombos participaram de uma palestra do antropólogo e artista plástico Anderson Pereira, com o tema “Marcos do Cinema Negro”. O contexto sobre o papel e espaços das pessoas negras no cinema mundial e brasileiro foi uma introdução para os jovens quilombolas se inspirarem a realizar filmes, desta vez, como protagonistas das suas narrativas.

Oficina de cinema negro com o antropólogo Anderson Pereira. Foto: Raphael Ribeiro

“Foi incrível trazer o conhecimento que eu adquiri e também aprender com eles essa nova forma de pensar e fazer cinema. E enxergar cinema a partir do nosso olhar amazônida. Isso é muito importante, ler a nossa realidade sem a contaminação daquilo que foi nos ensinado a esquecer”, comemora Pereira. 

A capacitação tem como base a teoria e a prática, no entanto, vai para além de uma formação básica, mas também contribui como fomento para criação de coletivos de comunicação colaborativa em cada território. Dessa forma, o projeto oferece suporte de equipamentos e recursos pedagógicos para que os participantes possam se tornar multiplicadores.

Na primeira edição, foi possível criar coletivos de comunicadores indígenas na aldeia Vista Alegre do Capixauã e Caranazal, o que resultou na elaboração diversos curtas e animações que foram exibidas na Mostra Ipê do CineAlter – Festival Latino Americano de Alter do Chão, em 2021, dedicada à filmes experimentais e de baixo custo. 

“Vamos além de um projeto de audiovisual, ele afeta pontos importantes para a vida dos povos tradicionais, porque incentivamos os jovens e adolescentes a encontrar suas identidades, a valorizar a memória dos seus ancestrais, a destacar a singularidade das suas culturas, buscando na fonte, nos mais velhos, as histórias a serem contadas, mas também tendo voz nessa narrativa audiovisual com um olhar próprio sobre suas realidades”, reflete Pedro Alcântara, antropólogo, produtor audiovisual e coordenador do projeto. 

O Vídeo Cartas Ubuntu tem interesse, em parceria com o Coletivo Kizomba e a Federação das Organizações Quilombolas de Santarém (FOQS), em dar continuidade a esse processo de interação e sociabilidade por meio de vídeos nos quilombos, com o intuito de criar um ecossistema comunicativo entre aldeias e quilombos e fomentar a produção audiovisual na região do Baixo Tapajós.

Paisagem de várzea do rio Amazonas no quilombo Arapemã, cenário de inspiração para as produções do projeto Vídeo Cartas Ubuntu. Foto: Raphael Ribeiro

Com informações de Raphael Ribeiro / Divulgação do Projeto Vídeo Cartas

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