Ação do MPF quer punição por contaminação de indígenas com agrotóxicos no Pará

Ação também cobra monitoramento da água e do solo e indenizações por danos ambientais, materiais e morais a pelo menos duas aldeias da Terra Indígena Alto Rio Guamá e a vila de agricultores familiares Piracema, em Santa Luzia do Pará, além de uma área do município de Capitão Poço, o assentamento Jararaca
Pelo menos duas aldeias na TI Alto Rio Guamá foram alvos de pulverização de agrotóxicos por aeronaves contratadas por um fazendeiro da região. Foto: Edvaldo Pereira / Amazônia em Foco

O Ministério Público Federal (MPF) entrou com ação na Justiça Federal, no dia 16/12, contra um fazendeiro, uma empresa de pulverização de agrotóxicos com aeronaves e o proprietário da empresa. Nédio Lopes Sales, Paranaer Paranatinga Aero Agrícola e Fernando Veiga dos Santos são acusados de contaminar com agrotóxicos, em 2017 e 2018, aldeias indígenas e comunidades de agricultores familiares no nordeste do Pará.

A contaminação ocorreu durante pulverizações aéreas que deveriam ser aplicadas em uma fazenda, chamada Caiarara, em Santa Luzia do Pará. No entanto, as pulverizações atingiram outras três áreas no município – duas aldeias da Terra Indígena Alto Rio Guamá e a vila de agricultores familiares Piracema –, além de uma área do município de Capitão Poço, o assentamento Jararaca.

O MPF pede à Justiça que os responsáveis sejam obrigados a pagar indenizações por danos ambientais, materiais e morais, além de custearem exames médicos e o monitoramento da água e do solo.

Impactos

As investigações contaram com laudos do Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado do Pará (Ideflor-bio) e da Polícia Federal.

Segundo os levantamentos, a aplicação aérea de agrotóxicos foi feita com total descumprimento às exigências estabelecidas na legislação que regula a prática.

Confira alguns dos impactos citados na ação do MPF:

• plantas com amarelecimento de folhas e queda de flores e frutos
• perdas totais de produções familiares
• águas com cor avermelhada e cheiro de veneno
• peixes com malformações
• morte de patos e peixes de criação doméstica
• abelhas afugentadas
• moradores com dores de cabeça, dores de barriga, garganta seca, tontura, enjoo, falta de ar e ardência nos olhos (mesmos sintomas e sinais clínicos prescritos nas bulas de todos os agrotóxicos utilizados na pulverização aérea da fazenda Caiarara)

Peixe com má formação de lábio sob suspeita de contaminação das águas por agrotóxico. Foto: MPF / Divulgação

Demais pedidos

O MPF também pediu que a Justiça Federal proíba o fazendeiro, a empresa de pulverização aérea e o dono da empresa de realizarem novas pulverizações sem o cumprimento da legislação.

Foi pedido, ainda, que, a cada nova pulverização, eles sejam obrigados a comunicar o fato à Fundação Nacional do Índio (Funai), ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), ao MPF e às comunidades indígenas e povoados adjacentes.

A comunicação – que, segundo o pedido do MPF, deverá ser feita com um mínimo de 15 dias de antecedência — servirá para o acompanhamento e controle da legalidade e regularidade da dispersão do produto.

O Processo n° 1005661-25.2022.4.01.3906 corre na Vara Federal Cível e Criminal da Justiça Federal em Paragominas (PA).

Veja aqui a íntegra da ação.

Consulta processual

Com informações da Assessoria de imprensa do Ministério Público Federal do Pará (MPF-PA).

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